quinta-feira, 11 de março de 2010

Metáfora portuguesa

Se Portugal, enquanto País, pudesse ser representado, por exemplo, como um normal edifício de habitação...



... pois creio que teria fundações e caboucos já muito vetustos, dos tempos ainda do Santo Ofício e da Monarquia absolutista; teria uma cave insalubre, pouco frequentada e a modos que intimidante, com um odor forte a moralismo católico e temor reverencial ao Destino; uma estrutura porticada convencional e aparentemente sólida, porém bastante degradada, concebida e executada por um auto-denominado Estado Novo; uma Arquitectura algo ingénua, incaracterística e pouco eficaz, projectada pelo Nacional-porreirismo, em sucessivos impulsos desconexos, desde os tempos de uma saudosa Revolução de Abril, pacífica e generosa, sim, mas curta de horizontes a médio e longo prazo; um Equipamento Técnico moderno e caro, todavia inadequado e montado demasiado à pressa no fulgor do Cavaquismo (e pago com dinheiros europeus fáceis); teria, ainda, uma decoração interior pindérica e notóriamente provinciana, ao pior gosto e estilo do novo-riquismo social e económico dos tempos do Guterrismo e do Barrosismo-Santanismo.


O estado actual do imóvel (paredes, pavimentos, tectos, portas e janelas, arrumação e limpeza gerais, qualidade do ar interior, etc....) é já, no entanto, da responsabilidade de um Mordomo novo e recentemente contratado, chamado José Sócrates, que se tem esforçado por realizar um trabalho vistoso, mas a quem a energia de sobra não compensa a incúria dos anteriores titulares do posto, o desmazelo dos próprios moradores, a insuficiência dos meios disponíveis e a sua própria pouca propensão natural para as tarefas de maior alcance estratégico, que não sómente as da manutenção rotineira.


Como proceder à recuperação deste valioso património imobiliário é um dos principais temas que me proponho debater neste novo espaço, que também tentará efectuar introspecções metódicas à nossa auto-consciência colectiva e à definição de como desejaríamos ser vistos por nós próprios, face ao Mundo exterior que nos rodeia e acompanha.

«Somos Filhos da Madrugada!

Pelas praias do Mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos...»